quarta-feira, 20 de agosto de 2008

BAÚ DE MEMÓRIAS

Depois de um interregno para férias, volto hoje ao Baú para mais uma evocação dos feitos do nosso Clube.

GELSENKIRCHEN/ 2004 - DO SONHO À REALIDADE (PARTE I)

De pronúncia aparentemente complicada, o nome da cidade alemã adquiriu repentinamente uma sonoridade musical que os adeptos portistas aprenderam a entoar com a habitual capacidade muito portuguesa.

Gelsenkirchen ficou na memória portista como mais uma página gloriosa a juntar a tantas outras que compõem a riquíssima história do FC Porto. Depois de Sevilha, o topo da Europa deixara de ser uma miragem para se tornar um objectivo cada vez mais real. Todos nós, adeptos, atletas, equipa técnica e responsáveis portistas, sentimos que adicionando um pouco mais de ambição à organização, classe e trabalho honesto e dedicado, imagem de marca da equipa de Mourinho, teríamos tudo para sermos ainda mais felizes. A Champions League estava transformada numa prova milionária, talhada para os "tubarões" europeus. Contudo, o sonho comanda a vida e não paga imposto.

O sorteio colocou-nos no Grupo F com o Partizan (Sérvia), Real Madrid (Espanha) e Marselha (França).

O primeiro embate teve lugar em Belgrado, frente ao Partizan treinado pelo alemão Lothar Matthaus. O Porto fez uma exibição cautelosa com uma primeira parte de domínio que lhe garantiu o ascendente no resultado com um golo de Costinha aos 22'.
Outros ficaram por marcar deixando para a segunda metade uma reacção da equipa da casa que pressionou e acabou por igualar a partida aos 54'. O empate final acabou por ser justo.

A segunda jornada, no Estádio das Antas, proporcionou aos adeptos portistas o privilégio de ver evoluir uma autêntica constelação de estrelas, os galácticos do Real Madrid (Figo, Zidane, Ronaldo, Solari, Roberto Carlos...), comandados por Carlos Queirós.

Os Dragões, talvez empolgados pela fama dos espanhóis rubricaram uma exibição deveras prometedora só atraiçoada pela eficácia atacante dos categorizados jogadores adversários. O Porto até marcou cedo, aos 5' por Costinha e produziu um futebol vistoso e personalizado. Acabou por sofrer uma derrota tão pesada quanto injusta (1-3) muito à custa de Casillas e da classe de Solari e Zidane.

O terceiro jogo disputou-se no Estádio Vélodrome frente ao Marselha onde os azuis e brancos voltaram a deixar uma imagem muito positiva, concretizando uma exibição de grande classe, raça, determinação e coragem. Começou a perder aos 24' com golo de Drogba, mas deu a volta ao marcador por Maniche (31'), Derlei (35') e Alenitchev (81'). Marlet (84') encerrou a contagem fixando o resultado em 2-3.

Os franceses deslocaram-se ao Estádio das Antas na 4ª jornada. Era importante vencer para garantir o 2º lugar do Grupo. O Porto não só venceu como convenceu. Explanou no terreno um esquema que lhe permitiu comandar de princípio ao fim todos os parâmetros do jogo. Foi dominadora, controladora e personalizada a exibição portista. Alenitchev (20') foi o autor do golo que ditou o resultado final: 1-0.

A 5ª jornada levou às Antas os sérvios do Partizan. O FC Porto apresentou-se coeso, compacto e muito seguro. Tinha a consciência da importância de mais uma vitória em casa, pois esta garantiria definitivamente a passagem aos quartos-de-final. E foi o que aconteceu. McCarthy (23' e 50') fez os golos de um resultado que acabou em 2-1, com o tento forasteiro apontado aos 90' por Delibasic.

A visita a Madrid para defrontar o Real , na 6ª e última jornada da fase de grupos foi um jogo para cumprir calendário já que as equipas em presença tinham já garantido as duas primeiras posições e respectivo acesso à fase seguinte. Havia no entanto o prestígio para defender, um valor monetário para discutir e principalmente um resultado para rectificar. Foi com este espírito que os Dragões pisaram o relvado do Santiago Barnabéu.

Despidos de preconceitos ou complexos assumiram o jogo e nem o golo merengue aos 9', por Solari, conseguiu esmorecer o desejo de construir um resultado positivo e uma exibição dignificante. Apesar do empenho ainda não seria dessa vez que a vitória sorriria, mau grado as oportunidades criadas. Derlei (34') fez a igualdade de grande penalidade, tornando o FC Porto na primeira equipa portuguesa a pontuar no místico Estádio espanhol.


O Estádio do Dragão, estreado oficialmente em competições europeias, foi o palco de um jogo de sonho da 1ª mão dos oitavos-de-final. Nada mais nada menos que o colosso e milionário Manchester United de Cristiano Ronaldo, foi a vítima de um Dragão de luxo, numa noite de inspiração que desbaratou os ingleses. Pena que o resultado (2-1) tenha ficado bem longe do que seria justo, tal o banho de bola com que os portistas brindaram o seu famoso adversário. Fortune (13') inaugurou o marcador e McCarthy (28' e 77') fechou a contagem. O 2-1 acabou por ser um resultado lisonjeiro para os ingleses, deixando tudo em aberto para a 2ª mão.

Old Trafford ia receber pela sétima vez uma equipa portuguesa. As seis anteriores partidas tinham redundado em tantas outras vitórias para o Manchester United, uma das razões que levaram os ingleses a encarar esta eliminatória com muito optimismo. O estádio estava cheio e vibrante, num ambiente infernal com os cânticos característicos dos britânicos. O Porto sabia das dificuldades que iria encontrar e preparou-se anímica e tacticamente. Scholes aos 31' deu vantagem no marcador e na eliminatória, tornando o ambiente ainda mais hostil. Os Dragões sabiam que podiam fazer história e continuaram a lutar com coragem, frieza, calculismo, talento, e cultura táctica. Souberam debelar situações de apuro e puseram à prova a capacidade de sofrimento. A dois minutos do fim Costinha sentenciou a eliminatória com um golo de rara oportunidade, calando Old Trafford e deixando os adeptos ingleses com expressões de incredibilidade. Estavam abertas as portas do quartos-de-final.

Os franceses do Lyon foram os nossos adversários. Coube-lhes deslocarem-se ao Dragão , na 1ª mão, que encheu de adeptos cada vez mais entusiasmados e esperançados num bom resultado. O FC Porto adoptou neste jogo uma atitude prudente e calculista, fazendo um jogo seguro, pela certa e sem correr riscos. Confirmou o seu favoritismo marcando dois golos, por Deco (44') e Ricardo Carvalho (71').

O jogo da segunda mão não foi propriamente um passeio. Os adeptos franceses, muito ruidosos prepararam um inferno na tentativa de intimidarem os nossos jogadores. No entanto, a estatura anímica da equipa esteve à altura dos acontecimentos e cedo deixou vincadas as suas intenções de querer continuar na prova. Maniche aos 6' fez funcionar o marcador. O Lyon, apesar de mais afastado do objectivo não desistiu e deu réplica igualando o marcador aos 14'.

Vítor Baía foi na primeira parte um obstáculo importante às investidas francesas, transmitindo confiança aos companheiros. Maniche, também ele com exibição inesquecível, voltou a marcar aos 46' lançando os Dragões para uma segunda parte de grande nível onde também Deco sobressaiu. Perto do fim (86') o Lyon obteve o empate (2-2) mas ficava garantida a passagem do FC Porto às meias-finais.


O Dragão vestiu-se de gala para receber o Deportivo da Corunha na 1ª mão. O clube galego apresentou-se muito táctico, com o trabalho de casa bem assimilado, amarrando as peças criativas do FC Porto que desta forma não conseguiu produzir o futebol que estava ao seu alcance.

Mesmo assim criou mais oportunidades de golo que os espanhóis e só a actuação desastrada do árbitro alemão Markus Merk impediu que os Dragões chegassem à vitória ao não assinalar uma grande penalidade evidente. O resultado foi uma igualdade a zero a deixar grandes interrogações para o jogo em Espanha.


Na Corunha o ambiente era de festa. A edilidade associara-se ao clube da cidade engalanando o edifício com as cores azuis e brancas do Deportivo e o estádio do Riazor apresentou-se repleto e todo vestido dessas cores onde apenas os emblemas marcavam a diferença. Lindo!

O FC Porto fez questão de mostrar porque se encontrava nesta fase da prova, oferencendo uma exibição esplendorosa e muito personalizada onde o "ninja" Derlei foi um autêntico diabo à solta deixando os galegos de cabeça perdida. O italiano Pierluigi Colina fez neste jogo o que o seu companheiro alemão não fizera no primeiro jogo. Assinalou bem uma falta merecedora de penalidade máxima que Derlei não enjeitou aos 58', colocando o Porto na final.Gelsenkirchen era uma realidade.

Um comentário:

dragao vila pouca disse...

Será que nos tempos mais próximos vamos viver outra coisa, já não digo igual, mas parecida?
Sinceramente não creio! Na época passada o regresso a Gelsenkirchen já foi muito mau e custou-nos a eliminação da C.League.
Mas que isso deixou marcas que não se apagarão nunca...deixou!
Um abraço