sábado, 6 de junho de 2009

TRABALHO DE JESUALDO, À LUPA!

A renovação do contrato de Jesualdo Ferreira por mais dois anos foi o passo lógico e previsível, apesar do tabu alimentado durante algumas semanas, quiçá no sentido de pôr os jornalistas e comentadores em pulgas, eles que gostam tanto de meter a foice em seara alheia.

Não sou nem nunca fui um grande fã do professor enquanto treinador de Clubes. Sempre o achei um profissional competente mas mais dotado para implementar processos defensivos, de contensão, identificado com as equipas que jogam essencialmente para não perder, mais do que para ganhar.

Foi por isso que a sua contratação, depois do abandono intempestivo e surpreendente do holandês Co Adriaanse, me deixou algo apreensivo.

Tenho a noção de que o trabalho de treinador no FC Porto, não está ao alcance de qualquer um, pela exigência, pela responsabilidade, pela obrigação de vencer e convencer, apesar da forte organização e apoio que indubitavelmente cá vem encontrar, muito difícil de igualar noutros clubes.

Jesualdo tinha apenas treinado equipas de média dimensão com relativo desempenho. Faltava a prova de fogo. Treinar um Clube grande, sempre a pensar em vitórias, em futebol de qualidade e em títulos.

Apesar de ter vencido o campeonato logo no primeiro ano, recordo que a época foi algo atribulada. Teve contra si o facto de ter pegado na equipa após a pré temporada, face à fuga do treinador anterior, sem tempo portanto para preparar o plantel.

Apesar de tudo, a primeira metade da época correu de forma assinalável, principalmente até meados de Janeiro, que coincidiu com o termo da 1ª volta do campeonato, altura em que tinha já uma vantagem confortável sobre a concorrência. Para trás tinham ficado duas derrotas consecutivas, em Londres frente ao Arsenal e em Braga, frente aos arsenalistas minhotos. Seguiu-se depois uma série de dez vitórias no campeonato, duas vitórias conclusivas sobre o Hamburgo, outra frente ao CSKA, em Moscovo, passando pelo empate no Dragão contra o Arsenal.

Os problemas surgiram após as férias prolongadas no Natal, começando com a eliminação da Taça de Portugal frente ao Atlético, em pleno Dragão.

A equipa ficou inexplicavelmente atarantada e não mais produziu o futebol que tinha sido capaz até então.

O Professor passou então uma fase complicada. Até final, somou cinco derrotas (uma das quais na CL que nos afastou da competição, nos 8ºs de final) e três empates, desbaratando a vantagem da primeira volta, chegando à última jornada com a necessidade de vencer para ser campeão. Foi mesmo à justa! Mais por demérito nosso que mérito dos adversários.

Conclusão (minha naturalmente): Jesualdo foi vitima de si próprio, dos seus medos, das suas dúvidas, das suas desconfianças. Foi feliz, ganhou e o que o povo quer é festa. Senão, não sei não!

Na segunda época, o Professor teve a sua pré época e pode elaborar com tempo o seu programa de acção.

Começou e terminou a época a perder as Taças, frente ao Sporting. A super e a de Portugal. Pelo meio, demonstrando uma falta de vocação para este tipo de troféus foi eliminado da Taça da Liga, no primeiro jogo frente ao modesto Fátima! Perderia também, de forma pouco merecida, é certo, a passagem aos quartos da CL, frente ao acessível Schalk 04.

A salvação foi o comportamento no Campeonato Nacional em que dominou de forma categórica, deixando a concorrência com 20 pontos de diferença! Ora isto, fez esquecer o resto!

Esta época, também o Professor passou por momentos atribulados. Não fora a determinação de Pinto da Costa e lá se teria estragado tudo.

A derrota na Supertaça, mais uma vez contra o Sporting, a humilhação em Londres frente ao Arsenal e as três derrotas seguidas (duas em casa - Dínamo Kiev e Leixões - Uma fora - Naval) deixou os adeptos à beira de um ataque de nervos com os mais exaltados a apupar a equipa e a mostrar lenços brancos ao Jesualdo Ferreira.

Creio que a partir deste período, o Professor ganhou outra «alma». Já não tinha nada a perder e arriscou. Desinibiu-se, tornou-se mais ousado, sem perder segurança, fazendo surgir uma equipa mais equilibrada, capaz, como demonstrou frente ao Manchester United, de se bater com qualquer adversário e em qualquer campo.

Não foi feliz na Champions, mas ao contrário dos outros anos, nenhum adepto, mesmo o mais exigente lhe atribuirá qualquer responsabilidade pela eliminação.

Sagrou-se tricampeão, sendo o único treinador português a conseguir tal feito. Esta época conseguiu finalmente exorcizar a «malapata» das taças ao triunfar no Jamor o jogo que deu ao FC Porto a 14ª Taça de Portugal e a 6ª dobradinha da história, repetindo os feitos de Yustriche (1955/56), Tomislav Ivic (1987/88), António Oliveira (1997/98), José Mourinho (2002/03) e Co Adriaanse (2005/06).

Apreciei a forma corajosa em que em todos os momentos deu a cara, na CS na defesa do FC Porto, numa altura em que foi sua, a única voz oficial na defesa do Clube perante a agressevidade jornalística e não só.

Por tudo isto, entendo que o Professor está de parabéns e merece a oportunidade de continuar a melhorar o seu currículo e ajudar à conquista dos novos desafios.

De imediato, garantir a aquisição dos elementos indispensáveis para compensar as eventuais saídas, no sentido de melhorar a coesão e o equilibrio da equipa e trabalhar de forma mais eficaz as grandes pechas que patenteou na maioria dos 52 desafios realisados, a qualidade do passe e a eficácia do remate. Neste particular há ainda muito trabalho para desenvolver.

Um comentário:

Sérgio de Oliveira disse...

Meu caro :

Análise clarividente !


Um abraço